A CAIXINHA DE INSETOS DE PEDRO
Dulce Consuelo R. Soares
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Era uma vez um aluno chamado Pedro e uma
professora chamada Teresa...
No primeiro dia de aula, a professora
Teresa pediu que os alunos levassem para a escola algo que eles gostassem
muito. (Neste momento a professora está favorecendo que os alunos iniciem,
dentro deles mesmos, um movimento de atividade, busca, pesquisa que é o
movimento interno, reforçando o sentido do diálogo estruturante - São os
Princípios ligados ao ato de aprender que Borges assinala no seu
Paradigma -1994)
Pedro pensou quando estava indo para casa:
"-Puxa! Vou levar algo meu para minha
professora e meus colegas!"
Chegando em casa, Pedro começa a
investigar o que ele tem para levar para a escola. (Vive o Princípio da Atividade) -Borges / 1994.
Sente uma sensação maravilhosa em poder
levar algo seu, pensa e de repente, age... "- Já sei vou levar
minha caixinha de insetos!
Logo em seguida, medita:
"Será que minha professora e meus
colegas vão gostar? -"Será que é isso que a Tia Teresa quer que eu leve?"
Pedro neste momento está cheio de
expectativas, vive o Princípio da Liberdade, quando faz uso da escolha
(caixinha de insetos).
Ainda atuando, indiscriminadamente, pois
não sabe realmente o que seu professor quer, resolve levar sua caixinha
confiando na última fala do seu professor: "Tragam algo para a escola de
que vocês gostem muito. (fala da professora)
No dia seguinte, Pedro não via a hora de
ir para a escola, estava motivadíssimo para mostrar sua caixinha de insetos .
Era "algo" que mais amava... (seu ECRO individual estaria prestes a
se integrar num "eu coletivo" - ECRO individual e ECRO grupal - Pichon
Rivière- 1995).
Chegando
à escola, Pedro viu seus colegas com várias coisas interessantes, um colega: o
Rafael levou o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro de Futebol, o
Filipe levou uma coleção de Tazos (jogo fornecido como brinde dos biscoitos
Elma Chips). Larissa e Marcela levaram seus diários com cadeado chave e tudo!
Cada colega levou o seu melhor...
A professora Teresa levou uma folha de
papel pardo e canetinhas para anotar as coisas que seus alunos mais gostam.
Pedro ficou "encantado" e todos
os seus colegas ficaram "loucos" com a sua caixinha de insetos. Os
alunos estavam muito felizes, a professora Teresa pediu que cada um falasse do
que trouxe e o porque da escolha . Estavam
sentados em círculo para que se vissem e ouvissem bem, neste momento os alunos
e a professora passam a se conhecer melhor.
Chegou a vez de Pedro . Ele falou que seu
pai é biólogo e estuda este tipo de animais - os insetos. Diz que acha o
trabalho do pai "muito bacana" e que gosta de capturar e guardar os
insetos como ele, para depois brincar de investigação. Todos ficaram curiosos
em descobrir o que é ser biólogo. Tia Teresa anota tudo e percebe que a turma
está interessadíssima no assunto, e propõe fazer uma pesquisa na sala de aula
sobre essa Ciência tão bonita que é a Biologia e inicia uma explicação dizendo
que a biologia é a ciência da vida e tudo que tem vida a biologia estuda. A
professora pede aos alunos que procurem em casa; revistas, jornais, livros
etc... E que ela, iria procurar na internet na sala de informática da escola,
assuntos ligados à biologia e tipos de vidas existentes no planeta Terra, diz
também que os alunos podem trazer o material escrito, desenhado, recortado e
montado num painel ou inventarem uma música sobre o tema: biologia.
Neste momento, a professora faz uso da
escuta psicopedagógica, integrando a educação assistemática (aquilo que as
crianças levaram) ao conteúdo sistematizado (pesquisa sobre a biologia e
permite que as diversas maneiras que cada um tem de lidar com o conhecimento
sejam bem vindas).
Quando o sinal toca, todos os alunos se
despedem da professora Teresa, torcendo que chegue logo o dia seguinte. Tia
Teresa pega o ônibus para a sua casa e sentada no banco faz uma auto avaliação
da sua aula . "Conversando com
seus botões" constata:
"- Nossa! Entrei no conteúdo de
Ciências de um jeito tão espontâneo ... nem precisei me desgastar dizendo: "Fica quieto olha para frente, queiram
prestar atenção! Ah! Assim não dá crianças! Meu Deus como é importante que eu
faça esses cursos e invista na minha profissão. Acho que depois de 15 anos de
formada, hoje dei uma aula de verdade!
E como vocês acham que estava Pedro?
Nossa! Estava radiante, falava em casa que
a sua escola é ótima, que a professora Teresa é fantástica e muito inteligente.
Seus pais ficaram muito satisfeitos ao ver o filho com tanta animação em
pesquisar e buscar o conhecimento que resolvem apoiar o filho, cooperando e
pesquisando com ele. (os Princípios ligados ao ato de aprender também começam a
circular nos seus pais, através de Pedro).
À noite quando Pedro se preparava pare dormir
pensa:
"- Acho que essa pesquisa vai
acontecer porque levei minha caixinha de insetos. Seremos autores de uma
pesquisa de biologia". Pedro começa a viver o movimento discriminado
frente ao novo. Farão uma pesquisa juntos, o Princípio de Autoridade / Autoria
(Borges-1994) começa a emergir naturalmente; serão em poucas horas autores de
uma pesquisa sobre biologia.
Pedro adormece e sonha com uma aula muito
legal.
Chega o grande dia! Todos descobrem que a
biologia se divide em várias áreas do conhecimento e resolvem dividir a
pesquisa em partes para facilitar o trabalho. Explicam o que é Biologia, a
origem do termo, até constroem um conceito:
"Biologia é a ciência que estuda
todas as formas de vida, tudo que nasce, cresce, se reproduz e morre é assunto
da biologia (conclusão dos alunos)".
Rafael (aquele que levou o álbum de
figurinhas) dá a ideia de construírem uns capítulos para falarem da zoologia
(animais), botânica (vegetais) e da entomologia (insetos) da mesma forma que o
álbum de figurinhas foi dividido pelos seus times. -Vivência do Princípio da
Criatividade (Borges-1994).
Todos vivem o movimento de separação
frente ao novo, a própria maneira como construíram a pesquisa deflagra que
estão nesse momento. Antes de desenvolverem a conclusão (movimento de
integração), a professora orienta que seria interessante que discutissem
primeiro sobre o que vão escrever, já que a conclusão é a última parte de um
trabalho devendo então, ser um resumo de tudo que foi pesquisado entre eles. O
debate começa entre as crianças, entre muitas falas, aparece uns
"emergentes" as alunas:
Larissa e Marcela (as
meninas do diário com cadeado chave e tudo!) disseram que a pesquisa da turma
301 deveria ser mostrada para as outras turmas, de repente:
Larissa
fala:
"- Só que na pesquisa não usaremos o
cadeado, ela estará sempre aberta para quem quiser ler e ver o que fizemos;
também para que a pesquisa continue sempre ajudando outros colegas como nós!
Marcela motivadíssima concluiu que a biologia
e o homem foram muito espertos. "- Acho que eles criaram estes outros
pedaços (zoologia, botânica, entomologia e etc.) para que nada ficasse de fora,
fizeram isso para facilitar o nosso estudo".
A professora quando propôs o debate
facilitou que o movimento de integração frente ao novo ocorresse. Dessa forma, o processo da espiral dialética
se encontra instaurado nesta turma, permitindo assim a continuação de futuras
mobilizações frente ao conhecimento. E o próprio movimento da vida, em sermos
eternos aprendizes.
Tia Teresa resolveu divulgar o trabalho da
terceira série para toda a escola inclusive sua diretora ficou tão animada que
resolveu pagar cursos de capacitação profissional para todos os professores da
sua escola .
A partir daquele dia, eles descobriram que
a escola é de fato um "delicioso" Grande Laboratório de Pesquisa
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