quinta-feira, 27 de junho de 2013

A CAIXINHA DE INSETOS DE PEDRO


A CAIXINHA DE INSETOS DE PEDRO
Dulce Consuelo R. Soares

     Era uma vez um aluno chamado Pedro e uma professora chamada Teresa...
     Era uma vez um aluno chamado Pedro e uma professora chamada Teresa...
     No primeiro dia de aula, a professora Teresa pediu que os alunos levassem para a escola algo que eles gostassem muito. (Neste momento a professora está favorecendo que os alunos iniciem, dentro deles mesmos, um movimento de atividade, busca, pesquisa que é o movimento interno, reforçando o sentido do diálogo estruturante - São os Princípios ligados ao ato de aprender que Borges assinala no seu Paradigma -1994)
     Pedro pensou quando estava indo para casa:
     "-Puxa! Vou levar algo meu para minha professora e meus colegas!"
     Chegando em casa, Pedro começa a investigar o que ele tem para levar para a escola. (Vive o Princípio da Atividade) -Borges / 1994.
     Sente uma sensação maravilhosa em poder levar algo seu, pensa e de repente, age... "- Já sei vou levar minha caixinha de insetos!
     Logo em seguida, medita:
     "Será que minha professora e meus colegas vão gostar? -"Será que é isso que a Tia Teresa quer que eu leve?"
     Pedro neste momento está cheio de expectativas, vive o Princípio da Liberdade, quando faz uso da escolha (caixinha de insetos).
     Ainda atuando, indiscriminadamente, pois não sabe realmente o que seu professor quer, resolve levar sua caixinha confiando na última fala do seu professor: "Tragam algo para a escola de que vocês gostem muito. (fala da professora)
     No dia seguinte, Pedro não via a hora de ir para a escola, estava motivadíssimo para mostrar sua caixinha de insetos . Era "algo" que mais amava... (seu ECRO individual estaria prestes a se integrar num "eu coletivo" - ECRO individual e ECRO grupal - Pichon Rivière- 1995).
     Chegando à escola, Pedro viu seus colegas com várias coisas interessantes, um colega: o Rafael levou o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro de Futebol, o Filipe levou uma coleção de Tazos (jogo fornecido como brinde dos biscoitos Elma Chips). Larissa e Marcela levaram seus diários com cadeado chave e tudo! Cada colega levou o seu melhor...
     A professora Teresa levou uma folha de papel pardo e canetinhas para anotar as coisas que seus alunos mais gostam.
     Pedro ficou "encantado" e todos os seus colegas ficaram "loucos" com a sua caixinha de insetos. Os alunos estavam muito felizes, a professora Teresa pediu que cada um falasse do que trouxe e o porque da escolha .  Estavam sentados em círculo para que se vissem e ouvissem bem, neste momento os alunos e a professora passam a se conhecer melhor.
     Chegou a vez de Pedro . Ele falou que seu pai é biólogo e estuda este tipo de animais - os insetos. Diz que acha o trabalho do pai "muito bacana" e que gosta de capturar e guardar os insetos como ele, para depois brincar de investigação. Todos ficaram curiosos em descobrir o que é ser biólogo. Tia Teresa anota tudo e percebe que a turma está interessadíssima no assunto, e propõe fazer uma pesquisa na sala de aula sobre essa Ciência tão bonita que é a Biologia e inicia uma explicação dizendo que a biologia é a ciência da vida e tudo que tem vida a biologia estuda. A professora pede aos alunos que procurem em casa; revistas, jornais, livros etc... E que ela, iria procurar na internet na sala de informática da escola, assuntos ligados à biologia e tipos de vidas existentes no planeta Terra, diz também que os alunos podem trazer o material escrito, desenhado, recortado e montado num painel ou inventarem uma música sobre o tema: biologia.
     Neste momento, a professora faz uso da escuta psicopedagógica, integrando a educação assistemática (aquilo que as crianças levaram) ao conteúdo sistematizado (pesquisa sobre a biologia e permite que as diversas maneiras que cada um tem de lidar com o conhecimento sejam bem vindas).
     Quando o sinal toca, todos os alunos se despedem da professora Teresa, torcendo que chegue logo o dia seguinte. Tia Teresa pega o ônibus para a sua casa e sentada no banco faz uma auto avaliação da sua aula .   "Conversando com seus botões" constata:
     "- Nossa! Entrei no conteúdo de Ciências de um jeito tão espontâneo ... nem precisei me desgastar dizendo:  "Fica quieto olha para frente, queiram prestar atenção! Ah! Assim não dá crianças! Meu Deus como é importante que eu faça esses cursos e invista na minha profissão. Acho que depois de 15 anos de formada, hoje dei uma aula de verdade!
     E como vocês acham que estava Pedro?
     Nossa! Estava radiante, falava em casa que a sua escola é ótima, que a professora Teresa é fantástica e muito inteligente. Seus pais ficaram muito satisfeitos ao ver o filho com tanta animação em pesquisar e buscar o conhecimento que resolvem apoiar o filho, cooperando e pesquisando com ele. (os Princípios ligados ao ato de aprender também começam a circular nos seus pais, através de Pedro).
     À noite quando Pedro se preparava pare dormir pensa:
     "- Acho que essa pesquisa vai acontecer porque levei minha caixinha de insetos. Seremos autores de uma pesquisa de biologia". Pedro começa a viver o movimento discriminado frente ao novo. Farão uma pesquisa juntos, o Princípio de Autoridade / Autoria (Borges-1994) começa a emergir naturalmente; serão em poucas horas autores de uma pesquisa sobre biologia.
     Pedro adormece e sonha com uma aula muito legal.
     Chega o grande dia! Todos descobrem que a biologia se divide em várias áreas do conhecimento e resolvem dividir a pesquisa em partes para facilitar o trabalho. Explicam o que é Biologia, a origem do termo, até constroem um conceito:
     "Biologia é a ciência que estuda todas as formas de vida, tudo que nasce, cresce, se reproduz e morre é assunto da biologia (conclusão dos alunos)".
     Rafael (aquele que levou o álbum de figurinhas) dá a ideia de construírem uns capítulos para falarem da zoologia (animais), botânica (vegetais) e da entomologia (insetos) da mesma forma que o álbum de figurinhas foi dividido pelos seus times. -Vivência do Princípio da Criatividade (Borges-1994).
     Todos vivem o movimento de separação frente ao novo, a própria maneira como construíram a pesquisa deflagra que estão nesse momento. Antes de desenvolverem a conclusão (movimento de integração), a professora orienta que seria interessante que discutissem primeiro sobre o que vão escrever, já que a conclusão é a última parte de um trabalho devendo então, ser um resumo de tudo que foi pesquisado entre eles. O debate começa entre as crianças, entre muitas falas, aparece uns "emergentes" as alunas:
Larissa e Marcela (as meninas do diário com cadeado chave e tudo!) disseram que a pesquisa da turma 301 deveria ser mostrada para as outras turmas, de repente:
     Larissa fala:
     "- Só que na pesquisa não usaremos o cadeado, ela estará sempre aberta para quem quiser ler e ver o que fizemos; também para que a pesquisa continue sempre ajudando outros colegas como nós!
     Marcela motivadíssima concluiu que a biologia e o homem foram muito espertos. "- Acho que eles criaram estes outros pedaços (zoologia, botânica, entomologia e etc.) para que nada ficasse de fora, fizeram isso para facilitar o nosso estudo".
     A professora quando propôs o debate facilitou que o movimento de integração frente ao novo ocorresse.  Dessa forma, o processo da espiral dialética se encontra instaurado nesta turma, permitindo assim a continuação de futuras mobilizações frente ao conhecimento. E o próprio movimento da vida, em sermos eternos aprendizes.
     Tia Teresa resolveu divulgar o trabalho da terceira série para toda a escola inclusive sua diretora ficou tão animada que resolveu pagar cursos de capacitação profissional para todos os professores da sua escola .
     A partir daquele dia, eles descobriram que a escola é de fato um "delicioso" Grande Laboratório de Pesquisa

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