sábado, 16 de março de 2013

Indiferença da natureza



Indiferença da natureza
        Eu me lembro do choque e da irritação que sentia, quando criança, ao assistir a documentários sobre a violência do mundo animal; batalhas mortais entre escorpiões e aranhas, centenas de formigas devorando um lagarto ainda vivo, baleias assassinas atacando focas e pinguins, leões atacando antílopes etc. Para finalizar, apareciam as detestáveis hienas, “rindo” enquanto comiam os restos de algum pobre animal.
        Como a Natureza pode ser assim tão cruel e insensível, indiferente a tanta dor e sofrimento? (Vou me abster de falar da dor e do sofrimento que a espécie dominante do planeta, supostamente a de maior sofisticação, cria não só para os animais, mas também para si própria.) Certos exemplos são particularmente horríveis: existe uma espécie de vespa cuja fêmea deposita seus ovos dentro de lagartas. Ela paralisa a lagarta com seu veneno, e, quando os ovos chocam, as larvas podem se alimentar das entranhas da lagarta, que assiste viva ao martírio de ser devorada de dentro para fora, sem poder fazer nada a respeito. A resposta é que a Natureza não tem nada a dizer sobre compaixão ou ética de comportamento. Por trás dessas ações assassinas se esconde um motivo simples: a preservação de uma determinada espécie por meio da sobrevivência e da transmissão de seu material genético para as gerações futuras. Portanto, para entendermos as intenções da vespa ou do leão, temos que deixar de lado qualquer tipo de julgamento sobre a “humanidade” desses atos. Aliás, não é à toa que a palavra humano, quando usada como adjetivo, expressa o que chamaríamos de comportamento decente. Parece que isentamos o resto do mundo animal desse tipo de comportamento, embora não faltem exemplos que mostram o quanto é fácil nos juntarmos ao resto dos animais em nossas ações “desumanas”.
        A ideia de compaixão é puramente humana. Predadores não sentem a menor culpa quando matam as suas presas, pois sua sobrevivência e a da sua espécie dependem dessa atividade. E dentro da mesma espécie? Para propagar seu DNA, machos podem batalhar até a morte por uma fêmea ou pela liderança do grupo. Mas aqui poderíamos também estar falando da espécie humana, não?



                                               (Marcelo Gleiser, Retalhos cósmicos. S.Paulo: Companhia das Letras, 1999, pp. 75-77)

1. Conforme demonstram as afirmações entre parênteses, o autor confere em seu texto estas duas acepções distintas ao termo indiferença, relacionado à Natureza:


(A) crueldade (indiferente a tanta dor e sofrimento) e generosidade (o que chamaríamos de comportamento decente).
(B) hipocrisia (por trás dessa ações assassinas se esconde um motivo simples) e inflexibilidade (predadores não sentem a menor culpa).
(C)) impiedade (indiferente a tanta dor e sofrimento) e alheamento (não tem nada a dizer sobre compaixão ou ética de comportamento).
(D) isenção (isentamos o resto do mundo animal desse tipo de comportamento) e pretexto (para propagar seu DNA).
(E) insensibilidade (sua sobrevivência e a da sua espécie dependem dessa atividade) e determinação (indiferente a tanta dor e sofrimento).


2. Considere as afirmações abaixo.

I. Os atributos relacionados às hienas, no primeiro parágrafo, traduzem nossa visão “humana” do mundo natural.
II. A pergunta que abre o segundo parágrafo é respondida com os exemplos arrolados nesse mesmo parágrafo.
III. A frase A ideia de compaixão é puramente humana é utilizada como comprovação da tese de que a natureza é cruel e insensível.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em:
(A)) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) I e III.

3. Considerando-se o choque e a irritação que o autor sentia, quando criança, com as cenas de crueldade do mundo animal, percebe-se que, com o tipo de argumentação que desenvolve em seu texto, ele pretende:

(A) justificar sua tolerância, no presente, com a crueldade que efetivamente existe no mundo natural.
(B)) se valer da ciência adquirida, para fazer compreender como natural a violência que efetivamente ocorre na Natureza.
(C) se valer da ciência adquirida, para justificar a crueldade como um recurso necessário à propagação de todas as espécies.
(D) justificar suas intolerâncias de menino, reações naturais diante da efetiva crueldade que se propaga pelo mundo animal.
(E) se valer da ciência adquirida, para apresentar a hipótese de que os valores morais e éticos contam muito para o funcionamento da Natureza.


4.Quanto à concordância verbal, está inteiramente correta a seguinte frase:


(A) De diferentes afirmações do texto podem-se depreender que os atos de grande violência não caracterizam apenas os animais irracionais.
(B) O motivo simples de tantos atos supostamente cruéis, que tanto impressionaram o autor quando criança, só anos depois se esclareceram.
(C) Ao longo dos tempos tem ocorrido incontáveis situações que demonstram a violência e a crueldade de que os seres humanos se mostram capazes.
(D) A todos esses atos supostamente cruéis, cometidos no reino animal, aplicam-se, acima do bem e do mal, a razão da propagação das espécies.
(E)) Depois de paralisadas as lagartas com o veneno das vespas, advirá das próprias entranhas o martírio das larvas que as devoram inapelavelmente.


5. NÃO admite transposição para a voz passiva o seguinte segmento do texto:

(A) centenas de formigas devorando um lagarto.
(B)) ao assistir a documentários sobre a violência do mundo animal.
(C) uma espécie de vespa cuja fêmea deposita seus ovos dentro de lagartas.
(D) Predadores não sentem a menor culpa.
(E) quando matam as suas presas.

6. Está inteiramente adequada a articulação entre os tempos verbais na seguinte frase:

(A) Predadores não sentirão a menor culpa a cada vez que matarem uma presa, pois sabem que sua sobrevivência sempre dependerá dessa atividade.
(B) Se predadores hesitassem a cada vez que tiveram de matar uma presa, terão posto em risco sua própria sobrevivência, que depende da caça.
(C) Nunca faltarão exemplos que deixassem bem claro o quanto é fácil que nos viessem a associar aos animais, em nossas ações “desumanas”.
(D) Por trás dessas ações assassinas sempre houve um motivo simples, que estará em vir a preservar uma determinada espécie quando se for estar transmitindo o material genético.
(E) Ao paralisar a lagarta com veneno, a vespa terá depositado seus ovos nela, e as larvas logo se alimentariam das entranhas da lagarta, que nada poderá ter feito para impedi-lo.


7. Temos que deixar de lado qualquer tipo de julgamento sobre a “humanidade” desses atos. O segmento sublinhado no período acima pode ser corretamente substituído, sem prejuízo para o sentido, por:
(A) nos isentarmos a.
(B) nos eximir para.
(C)) nos abster de.
(D) subtrair-nos em
(E) furtar-nos com.


8. Está inteiramente correta a pontuação do seguinte período:

(A) Paralisada pelo veneno da vespa nada pode fazer, a lagarta, a não ser assistir viva à sua devoração, pelas larvas, que saem dos ovos ali chocados.
(B) Nada pode fazer, a lagarta paralisada, pelo veneno da vespa, senão assistir viva, à sua devoração pelas larvas que saem dos ovos, e passam a se alimentar, das entranhas da vítima.
(C) A pobre lagarta, paralisada pelo veneno da vespa assiste sem nada poder fazer, à sua devoração pelas larvas, tão logo saiam estas dos ovos, que, a compulsória hospedeira, ajudou a chocar.
(D) Compulsória hospedeira, paralisada pelo veneno da vespa, a pobre lagarta assiste à devoração de suas próprias entranhas pelas larvas, sem poder esboçar qualquer tipo de reação.
(E) Sem qualquer poder de reação, já que paralisada pelo veneno da vespa a lagarta, compulsoriamente, chocará os ovos, e depois se verá sendo devorada, pelas larvas que abrigou em suas entran

9. Atente para as frases abaixo.
I. Quando criança assistia a documentários sobre a vida selvagem.
II. Tais documentários me irritavam.
III. Nesses documentários exibiam-se cenas de extrema violência.

Essas frases estão articuladas de modo correto e coerente no seguinte período:
(A) Irritavam-me aqueles documentários sobre a vida selvagem que assisti quando criança, nos quais continham cenas que exibiam extrema violência.
(B) Naqueles documentários sobre a vida selvagem, a que quando criança assistia, me irritava, conquanto exibissem cenas de extrema violência.
(C) Uma vez que exibiam cenas de extrema violência, irritava-me com aqueles documentários sobre a vida selvagem, assistidos quando criança.
(D) As cenas de extrema violência me irritavam, quando criança, por assistir tais documentários sobre a vida selvagem, em que eram exibidas.
(E) Os documentários sobre a vida selvagem, a que assistia quando era criança, irritavam-me porque neles eram exibidas cenas de extrema violência.


10 . Há uma relação de causa (I) e consequência (II) entre as ações expressas nas frases destacadas em:
(A) I. Para entendermos as intenções da vespa, II. temos que deixar de lado qualquer tipo de julgamento.
(B) I. Para finalizar, II. apareciam as detestáveis hienas.
(C) I. Isentamos o resto do mundo animal desse tipo de comportamento,
II. embora não faltem exemplos que mostram o quanto é fácil nos juntarmos ao resto dos animais.
(D) I. as larvas podem se alimentar das entranhas da lagarta, II. que assiste viva ao martírio de ser devorada de dentro para fora.
(E) I. Predadores não sentem a menor culpa, II. quando matam as suas presas.


11. Está correto o emprego de
 ambos os elementos sublinhados em:
(A) O autor se pergunta por que haveriam de ser cruéis os animais que aspiram à propagação da espécie.
(B) Quando investigamos o
 por quê da suposta crueldade animal, parece de que nos esquecemos da nossa efetiva crueldade.
(C)
 À lagarta, de cujo ventre abriga os ovos da vespa, só caberá assistir ao martírio de sua própria devoração.
(D) Se a ideia de compaixão é puramente humana, não há
 porque imputarmos nos animais qualquer traço de crueldade.
(E) Os bichos
 a cujos atribuímos atos cruéis não fazem senão lançar-se na luta pela sobrevivência.


12. O emprego das aspas em “rindo” (primeiro parágrafo) deve-se ao fato de que o autor deseja

(A) remeter o leitor ao sentido mais rigoroso que essa palavra tem no dicionário.
(B) chamar a atenção para a impropriedade da aplicação desse termo, no contexto dado.
(C) dar ênfase, tão-somente, ao uso dessa palavra, como se a estivesse sublinhando ou destacando em negrito.
(D) assinalar o emprego despropositado de um termo que a ninguém, habitualmente, ocorreria utilizar.
(E) precisar o sentido contrário, a significação oposta à que o termo tem no seu emprego habitual.


13. O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se numa forma do
 plural para preencher corretamente a lacuna da frase:

(A) Não se ...... (atribuir) às lagartas a crueldade dos humanos, por depositarem os ovos no interior das vespas.
(B) O que ...... (impelir) os animais a agirem como agem são seus instintos herdados, e não uma intenção cruel.
(C) Não se ...... (equiparar) às violências dos machos, competindo na vida selvagem, a radicalidade de que é capaz um homem enciumado.
(D) ...... (caracterizar-se), em algumas espécies animais, uma modalidade de violência que interpretamos como crueldade.
(E) ...... (ocultar-se) na ação de uma única vespa os ditames de um código genético comum a toda a espécie.


14. Considerando-se o contexto, o elemento sublinhado pode ser substituído pelo que está entre parênteses, sem prejuízo para o sentido e a correção da frase, em:

(A)
 Por trás dessas ações assassinas se esconde um motivo simples. (Nessas ações assassinas infiltra- se)
(B) Apareciam as detestáveis hienas, “rindo” enquanto comiam os restos
 de algum pobre animal. (à medida em que devoravam os detritos)
(C) A ideia de compaixão é
 puramente humana. (restringe-se à espécie humana)
(D) Sua sobrevivência e a da sua espécie
 dependem dessa atividade. (são  permeáveis a tais iniciativas)
(E) A Natureza
 não tem nada a dizer sobre compaixão ou ética de comportamento. (dissimula seu interesse por)

Gabarito:

1C // 2A //3 B // 4 E // 5 B // 6 A // 7 C // 8 D // 9 E // 10 D // 11 A // 12 B // 13 E // 14 C

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