Desabafo de um bom marido
Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai
às compras. Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e
uma máquina de fazer pão elétrica. Então ela disse : “Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar
pra sentar”. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Eu me casei com a “Sra. Certa”. Só não sabia que o primeiro nome dela
era “Sempre”. Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto
de interrompê-la. Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa
minha. Ela perguntou: “O que tem na TV?” E eu disse “Poeira”. No começo Deus
criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou. Depois,
criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo tiveram mais
descanso.
Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre
me dando a entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava tendo
outra coisa para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma
coisa mais importante para mim. Finalmente ela pensou num jeito esperto de me
convencer. Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta,
ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um
tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa. Em alguns minutos eu
voltei com uma escova de dentes e lhe entreguei.
“- Quando você terminar de cortar a grama”, eu disse, “você pode
também varrer a calçada.”
Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu
voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida.
O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre
certa e a outra é o marido...
Luís Fernando
Veríssimo
01. No texto “Desabafo
de um bom marido”, o narrador satiriza a relação marido e mulher,
utilizando alguns recursos expressivos para criar o efeito humorístico que
cativa o leitor. Dentre esses recursos destacamos a quebra de expectativa, em
que uma afirmação quebra a expectativa criada por uma afirmação anterior. Esse
recurso é observado no trecho :
(A) “Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas
mancarei pelo resto da vida”.
(B) Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha
mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo.
(C)
Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha.
(D) No
começo Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou.
(E) Minha
esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras.
02. Observando
o foco narrativo podemos afirmar que o narrador é do tipo
(A)
narrador-observador intruso
(B)
narrador- observador parcial
(C)
narrador- personagem testemunha
(D)
narrador- personagem protagonista
(E)
eu-lírico
03. A
palavra desabafo, no título do
texto, anuncia que o marido
(A)
analisará o comportamento de um bom marido.
(B)
atestará a experiência feliz que é seu casamento.
(C)
exaltará o relacionamento entre marido e mulher.
(D)
falará dos problemas que enfrenta no casamento
(E)
dará conselhos sobre como ser um bom marido.
04. A
afirmação “Eu me casei com a ‘Sra. Certa’. Só não sabia que o primeiro nome
dela era ‘Sempre’.” leva à compreensão
de que
(A) a
esposa é sempre fiel ao marido.
(B) o
marido encontrou a pessoa certa para ele.
(C) a
esposa acha que sempre tem razão.
(D) o
marido não compreende a esposa.
(E) a
esposa é sempre dedicada ao marido
05. No
trecho “Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.’
, a situação é apresentada de forma exagerada para expressar que
(A) a
esposa é uma pessoa que fala demais.
(B) o
marido nunca interrompe a fala da esposa.
(C) o
marido está separado da esposa há 18 meses.
(D)
não há diálogo entre marido e mulher.
(E) a
esposa está ausente há 18 meses.
06. Ao
podar a grama alta com uma tesourinha de costura, a esposa estava
(A)
tentando aliviar o estresse do dia a dia.
(B)
limpando o jardim que estava muito sujo.
(C)
mostrando ao marido como se apara grama.
(D)
provocando o marido que não consertava o aparador de grama.
(E) executando
uma tarefa doméstica de rotina
07. A
resposta do marido à pergunta “O que tem
na TV?” causou uma briga entre o casal porque
(A) a
pergunta feita pela esposa foi ofensiva.
(B) o
marido aproveitou a ambiguidade da pergunta para provocar a esposa.
(C) a
resposta do marido mostrava a indiferença dele em relação à esposa.
(D) o
marido não entendeu a pergunta da esposa.
(E) a
esposa não entendeu a resposta do marido.
08. O
discurso direto, predominante no texto, é utilizado quando o narrador tem a
intenção de
(A)
mostrar o marido tentando controlar a esposa.
(B)
descrever uma cena do cotidiano do casal.
(C) dar
voz as personagens.
(D)
tecer considerações sobre o comportamento do casal.
(E)
ressaltar que a esposa nunca concorda com o marido.
09. A
oração “Quando o nosso
cortador de grama quebrou,...” expressa, em relação à oração que a segue, a
ideia de
(A) tempo (B) lugar.
(C) modo.
(D)
causa. (E) propósito.
10. Em
relação aos trechos abaixo
I - “Se
eu soltar, ela vai às compras.” (linha 02)
II - “Só não
sabia que o primeiro nome dela era ‘Sempre’.” (linha 09)
III - “Já
faz 18 meses que não falo com minha esposa.” (linhas 08 e 09)
é
correto afirmar que as palavras destacadas
expressam, respectivamente.
(A)
tempo, condição e restrição.
(B)
condição, restrição e tempo.
(C)
condição, tempo e restrição.
(D)
restrição, condição, tempo.
(E)
tempo, restrição e condição.
11. O
texto enfatiza a ideia de que um bom marido é aquele que
(A)
não faz gozação com a esposa.
(B) é
prestativo nas atividades domésticas.
(C)
faz tudo que a esposa quer.
(D)
admite que a esposa sempre tem razão.
(E)
não provoca brigas
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domingo, 4 de maio de 2014
CRÔNICA O desabafo de um bom marido
Exercício de interpretação - Texto: O desabafo de um bom marido
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