sábado, 23 de fevereiro de 2013

texto Aí, galera - linguagem e interação



Categorizar grupos sociais a partir de ideias preconcebidas – os chamados estereótipos – é algo muito comum em nossa sociedade. É sobre esse tema que trata, com humor, o seguinte texto do cronista Luís Fernando Veríssimo.

                                            Aí, galera

          “Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
         -Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
          -Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
           -Como é ?
           -Aí, galera.
           -Quais são as instruções do técnico?
           -Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
            -Ahn?
            -É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
             -Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
             -Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
             -Pode.
             -Uma saudação para a minha genitora.
             -Como é?
             -Alô, mamãe!
             -Estou vendo que você é um, um...
              -Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
            -Estereoquê?
             -Um chato?
              -Isso.”
                                                                   Luís Fernando Veríssimo (In: Correio Brasiliense, 13/05/1998)
Assinale a única alternativa correta:
1. O texto retrata duas situações relacionadas que fogem à expectativa do público. São elas:
a. (   ) a saudação do jogador aos fãs do clube, no início da entrevista, e a saudação final dirigida à sua mãe.
b. (   ) a linguagem muito formal do jogador, inadequada à situação da entrevista, e um jogador que fala, com desenvoltura, de modo muito rebuscado.
c. (   ) O uso da expressão “galera”, por parte do entrevistador, e da expressão “progenitora”, por parte do jogador.
d. (   ) o desconhecimento, por parte do entrevistador, da palavra “estereotipação”, e a fala do jogador em “é pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça”.
e. (   ) O fato de os jogadores de futebol serem vítimas de estereotipação e o jogador entrevistado não corrresponder ao estereótipo.

2. O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre língua oral e escrita, assinale a opção que representa também uma inadequadação da linguagem usada no contexto apresentado.
a.(   ) “O carro bateu e capotô, mas num deu para  vê direito.” – comentário de um pedestre que assistiu ao acidente, com outro que vai passando.
b.(   ) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” – um jovem que fala com um amigo.
c.(   ) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação.”- alguém comenta em uma reunião de trabalho.
d.(   ) “Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de Secretária Executiva dessa conceituada empresa.”- alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego.
e.(   ) “Porque se a gente não resolvê as coisas como tem que ser, a gente corre o risco de termos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros.” – um professor universitário discursando em um congresso internacional.

3. A expressão “pegá eles sem calça”, no texto, poderia ser substituída, sem comprometimento do sentido, por:
a. (   ) pegá-los na mentira.
b. (   ) pegá-los desprevenidos.
c. (   ) pegá-los em flagrante.
d. (   ) pegá-los rapidamente.
e. (   ) pegá-los momentaneamente.

4. Os trechos abaixo retratam a fala de jovens sobre sua própria linguagem:
  • A gíria é um meio muito legal de se comunicar, é irado falar de um jeito que os professores e o pessoal lá de casa não entendem. (Gabriel, 14 anos).
  • O “tipo assim” é o espaço que a gente usa pra pensar as palavras. (Marco, 15 anos)
  • A gente não fala mais “é uma brasa, mora!”, que era moda nos tempos do meu pai. No lugar disso, falamos outras coisas. (Daniela, 16 anos).
  • Cara, eu também sei falar formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um aí, velhinho! (Victor, 17 anos)
A partir da leitura dos trechos, diga se é falsa (F) ou verdadeira (V) cada uma das afirmações:
a. (   ) Na fala de Gabriel, percebe-se que adultos e jovens usam a língua de forma igual.
b. (   ) Segundo Marco, “tipo assim” é uma forma de resumir uma informação.
c. (   ) A fala de Daniela revela que a língua não é um fato social estático, ao contrário, varia ao longo do tempo.
d. (   ) Victor sabe que o uso da língua varia conforme o grau de intimidade entre as pessoas, ou seja, que usar linguagem formal ou informal é questão de adequação à situação.

5. Suponha que um aluno se dirige a um colega de classe nesses termos: “Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me seu livro de matemática.” A atitude desse aluno se assemelha à atitude do indivíduo que:
a. (   ) comparece ao baile de gala trajando smoking.
b. (   ) vai à audiência com um juiz trajando short e camiseta.
c. (   ) vai à praia de terno e gravata.
d. (   ) vai ao estádio de futebol de chinelo e bermuda.

6. Leio o texto para responder a questão abaixo.

EU TE AMO
(Tom Jobim e Chico Buarque)
Ah, se já perdemos a noção da hora,
Se juntos já jogamos tudo fora,
Me conta agora como hei de partir…
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios,
Rompi com o mundo, queimei meus navios,
Me diz pra onde é que inda posso ir…
[…]
Se entornastes a nossa sorte pelo chão,
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu…
[…]
Como, se nos amamos como dois pagãos,
Teus seios inda estão nas minhas mãos,
Me explica com que cara eu vou sair…
Não, acho que estás só fazendo de conta,
Te dei meus olhos pra tomares conta,
Agora conta como hei de partir…

Neste texto, em que predomina a linguagem culta e literária, ocorre também a seguinte marca da linguagem coloquial:
a. (   ) emprego de “hei” no lugar de “tenho”
b. (   ) falta de concordância quanto à pessoa nas formas verbais estás, tomares e conta.
c. (   ) emprego de verbos predominantemente na 2ª pessoa do singular.
d. (   ) redundância semântica, pelo emprego repetido da palavra “conta” na última estrofe.
e. (   ) emprego das palavras bagunça e cara.

Gabarito
1. e       2.e        3.b   
4. a. (F)      b. (F)        c. (V)       d. (V)
5. Alternativas “b” e “c”
6. e

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