sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

análise do relato pessoal




UM RELATO PESSOAL

A vida é algo "complicado" de se viver. É preciso ter "boa vontade" ou nunca se sairá da "estaca zero". Eu sou uma pessoa que costumava dizer que não aprendia com os erros alheios, gosto de cair, sentir a dor, para poder me levantar mais forte. Mas a vida acabou querendo me ensinar sem precisar cair. Não foi uma maneira fácil de aprender, mas digamos que foi valiosa.
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Cresci rodeada de pessoas ganaciosas, daquelas que vivem para o dinheiro, para juntar, obter propriedades e joias. A minha avó era assim. Passou a vida inteira vivendo para o trabalho e para o dinheiro que recebia. Dizia que, ao se aposentar, aí sim, aproveitaria a vida. Mas ela não sabia que a vida também é traiçoira, e a sua aposentadoria acabou sendo forçada devido a um câncer. E o câncer acabou tomando-lhe os três últimos anos de sua vida e, ao invés de aproveitar a aposentadoria "vivendo", "aproveitou" lutando pela vida.
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Não foi fácil ver aquela mulher tão forte, sempre tão decida desistindo de viver. Não foi fácil ouví-la pedir a Deus que trocasse a sua vida pela de seu neto, que também estava doente. Não foi fácil vê-la morrer com o passar dos dias, mas confesso que foi uma verdadeira lição que levarei por toda minha existência.
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Nos dias que passou no hospital, poucas foram as visitas que recebeu, e isso se deu, por nunca ter procurado e nem cativado amigos. Os "amigos" que tinha eram apenas ligados a algum interesse. Não sabia o que era amizade, o que era a mão de um amigo ou um ombro acolhedor. Nunca fora de 'sair com as amigas', preferia ficar em casa, assistindo a novela.
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Joias? Ela tinha demais. Inúmeras. Joias que nem sequer lembrava a existência, mas as tinha, e isso a fazia sentir-se bem. O seu guarda-roupas era enorme e cheio dos mais variados modelos, mas as roupas que usava eram sempre as mesmas, as que ficavam em uma pequena parte daquela imensidão. Os produtos de beleza também eram em grandes quantidades. Alguns com a data de validade vencida a anos e que sequer foram abertos. Coisas ela tinha, muitas, mas parece que ela não sabia ser e nem viver.
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Quando morreu, não teve oportunidade nem de escolher a última roupa, a minha mãe o fez. O sapato também. Lembro perfeitamente daquela roupa verde, sempre usada em ocasiões especiais. E por falar nisso, ainda hoje me pergunto se aquela foi ou não uma ocasião especial. Mas penso que sim, ela jamais gostaria de ser enterrada com algo 'simples'.
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Não gosto de me aproximar do caixão, nunca gostei. Quero sempre levar boas lembranças dos que se foram. Lembrar de seus sorrisos, suas piadas e naquela vez não foi diferente. Não me aproximei, mas não consegui não observar de longe.
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Lá estava ela, deitada, sem nem saber quem a olhava. Reparei que não estava com nenhuma joia. Nenhuma. Inclusive a sua aliança. Não a deixaram levar nem a aliança! Quiseram prendê-la aqui, para ficar 'jogada', sem dona. Nenhuma outra das suas tantas jóias foram com ela. As suas propriedades, aquelas que lutou tanto para obter, ficaram por aqui, também sem dono e sem seus cuidados.
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E foi ali, naquele momento, quando o caixão estava sendo abaixado para dentro da terra, que pude perceber o quanto perdemos da vida. O quanto a deixamos de valorizar. Perdemos tempo querendo, tendo, e esquecemos de ser quem verdadeiramente somos. De valorizar quem precisa de valor. Valor esse que deve ser dado as pessoas, e não as coisas. Não adianta valorizar coisas, pois elas jamais se sentirão valorizadas.
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Quando fazemos um sacrifício por alguém, não fazemos para sermos 'vangloriados', mas sim por querermos, por nos sentirmos bem desta forma. Mas sabe, é sempre bom ser valorizado por aquilo que se faz. E não é preciso que seja dito com palavras, mas ao menos com ações. Valorizar as pessoas, o que elas são e o que fazem, estreita os relacionamentos e torna as pessoas mais próximas. Mas, por algum motivo, tenho notado que não há interesse em aproximação.
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As pessoas tornaram-se cada vez mais egoístas. Só querem ter. Só querem para si. E esquecem-se que nada levarão dessa vida. Naquele buraco, em baixo a sete palmos da terra, não cabe mais nada, apenas você (ou nem você, só o seu corpo) e o seu caixão (aquele que você também não poderá escolher).
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E é por isso que resolvei escrever, para botar pra fora algo que a muito aprendi e que não acho que deva ficar guardado comigo.
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                                                                                     Texto retirado do http://botandopra-fora.blogspot.com.br


  1. Qual é o assunto do texto?
  2. Em que pessoa o texto é narrado?
  3. Caracterize a avó da narradora, de acordo com a opinião dela, que relata o fato.
  4. Que tipo de linguagem apresenta o texto?
  5. Retire do texto trechos que apresentam a opinião da neta em relação à sua avó ou um fato que é narrado.


        O texto acima é chamado de RELATO PESSOAL. A função do relato pessoal é registrar as experiências pessoais no intento de que estas possam servir como fonte de consulta ou aprendizado para outras pessoas.
        Ele apresenta elementos básicos da narrativa: sequência de fatos, personagem, tempo e espaço;  é narrado em primeira pessoa e os verbos geralmente apresentam-se no pretérito (por se tratar de um fato passado); narra um episódio marcante da vida pessoal; o narrador é protagonista;  presença trechos descritivos e, eventualmente, de diálogos; a linguagem empregada é compatível com os interlocutores, sendo normalmente culta.

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