Estudo do Gênero - Conto
Este
conto é da tradição popular oral. Para melhor saboreá-lo, é importante que ele
seja lido em voz alta, com toda a expressividade que um contador de histórias
ou causos (narração, geralmente falada, relativamente curta, que trata de um
acontecimento real) usaria.
A leitura
oral feita com bastante expressividade é uma forma de interpretar o texto.
Este
história é uma versão escrita por Ricardo Azevedo de um conto popular em
prosa e para conhecer esse gênero de texto, analisaremos a forma como foi
construído, sua organização, sua linguagem. Uma das características do
conto popular é o humor .Por se tratar de um texto humorístico, a dramatização
propiciará um momento de descontração e leveza. A dramatização do texto estruturado
em diálogos toma possível destacar alguns vestígios da oralidade: linguagem
espontânea, interjeições, expressões próprias da fala.
1. Narrativa em prosa
O conto
lido é uma narrativa em prosa. Dizemos que um texto está em prosa quando é
organizado em frases contínuas formando parágrafos.
2. Momentos da narrativa
Os
momentos de uma narrativa tradicional podem ser organizados da seguinte
maneira:
Situação
inicial: situação
de equilíbrio
Conflito:
motivos
que desencadeiam a ação da história
Clímax do
conflito: momento
de maior tensão na história
Desfecho: final e resolução do conflito
3. Personagens
As
histórias de tradição oral passam de boca em boca. Tanto o contador como o
ouvinte irão dar mais atenção aos fatos que ao nome das personagens. Assim, as
personagens geralmente são identificadas por meio de uma característica e não
pelo nome próprio.
4. Tempo
As
histórias de tradição oral passam de uma geração para outra e assim acabam não
sendo localizadas num tempo determinado.
5.
Espaço
As
histórias contadas oralmente se espalham com muita facilidade de um lugar para
outro. Por isso, além da indeterminação do tempo, outra característica das
histórias de tradição oral é que os fatos ocorrem em espaços, lugares também
indeterminados, indefinidos
O caso do espelho
Era um
homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida
nos cafundós da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:
— Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui? — Isso é um espelho — explicou o dono da loja.
— Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
— O senhor... conheceu meu pai? — perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
— É não! — respondeu o outro. — Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.
Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
A mulher ficou só olhando.
No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
— Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. — É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
— Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.
— Que foi isso, mulher?
— Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
— Que retrato? — perguntou o marido, surpreso.
— Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
O homem não estava entendendo nada.
— Mas aquilo é o retrato do meu pai!
Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
— Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.
— Velho lazarento coisa nenhuma! — gritou o homem, ofendido.
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.
— Que é isso, menina?
— Aquele cafajeste arranjou outra!
— Ela ficou maluca — berrou o homem, de cara amarrada.
— Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato. Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
— Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
E completou, feliz, abraçando a filha:— Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!
Versão de conto popular por Ricardo Azevedo
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:
— Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui? — Isso é um espelho — explicou o dono da loja.
— Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
— O senhor... conheceu meu pai? — perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
— É não! — respondeu o outro. — Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.
Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
A mulher ficou só olhando.
No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
— Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. — É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
— Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.
— Que foi isso, mulher?
— Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
— Que retrato? — perguntou o marido, surpreso.
— Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
O homem não estava entendendo nada.
— Mas aquilo é o retrato do meu pai!
Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
— Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.
— Velho lazarento coisa nenhuma! — gritou o homem, ofendido.
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.
— Que é isso, menina?
— Aquele cafajeste arranjou outra!
— Ela ficou maluca — berrou o homem, de cara amarrada.
— Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato. Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
— Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
E completou, feliz, abraçando a filha:— Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!
Versão de conto popular por Ricardo Azevedo
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