O PODER DE UM TELEFONEMA
O cara liga pra casa numa tarde para saber
o que a esposa vai fazer para o jantar.
- Alô? - diz uma vozinha de criança.
- Oi, querida, é o papai. Mamãe está perto
do telefone?
- Não, papai. Ela está lá em cima no
quarto com o tio Chico.
Após alguns segundos, o cara diz:
- Mas querida, você não tem um tio chamado
Chico!!!
- Sim, eu tenho! E ele está lá em cima no
quarto com a mamãe.
- Tá bom, então quero que você faça o
seguinte: suba correndo as escadas, bata na porta do quarto e grite para a
mamãe e para o tio Chico que meu carro acabou de parar na frente de casa.
- Tá legal, papai. Alguns minutos depois,
volta a menina:
- Eu fiz o que você disse, papai.
- E o que aconteceu?
- Bem, a mamãe pulou da cama pelada e
começou a correr pelo quarto gritando, tropeçou no tapete e caiu pela janela da
frente, e agora ela está morta...
- Oh, meu Deus!!! E o tio Chico?
- Ele pulou da cama pelado também, estava
muito assustado, e pulou pela janela do fundo para dentro da piscina, mas ele
deve ter esquecido que você esvaziou a piscina na semana passada para limpar,
daí ele bateu a cabeça no fundo dela, e agora está lá, morto também...
Uma longa pausa e o cara diz:
- Piscina??? Por acaso o telefone dai é
3555-0739???
- Não!
- Desculpe, foi engano!!!
a) No texto acima, as expressões papai, mamãe e querida foram interpretadas equivocadamente, gerando um enorme mal- entendido. Tudo aconteceu a partir de uma conversa telefônica entre um homem e uma criança. Explique quais são os referentes dessas expressões, considerando a fala da criança e a fala do homem.
b) Marque a opção correta.
O equívoco gerado no texto acima pode ser analisado:
( ) sob a ótica da dêixis: fenômeno que ancora a produção linguística dos falantes aos contextos situacionais.
( ) na perspectiva da anáfora, já que os referentes poderiam ser recuperados durante a conversa entre o “pai” e a “filha”.
Conto erótico nº 1
-Assim ?
-É. Assim.
-Mais depressa ?
-Não. Assim está bem. Um pouco mais para...
-Assim ?
-Não, espere.
-Você disse que...
-Para o lado. Para o lado!
-Querido...
-Estava bem mas você...
-Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem.
-Estava perfeito e você...
-Desculpe.
-Você se descontrolou e perdeu o...
-Eu já pedi desculpa !
-Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora.
-Assim ?
-Um pouco mais pra cima.
-Aqui ?
-Quase. Está quase !
-Me diga como você quer. Oh, querido...
-Um pouco mais para baixo.
-Sim.
-Agora para o lado. Rápido !
-Amor, eu...
-Para cima ! Um pouquinho...
-Assim ?
-Ai ! Ai !
-Está bom ?
-Sim. Oh, sim. Oh yes, sim.
-Pronto.
-Não ! Continue.
-Puxa, mas você...
-Olha aí. Agora você...
-Deixa ver...
-Não, não. Mais para cima.
-Aqui ?
-Mais. Agora para o lado.
-Assim ?
-Para a esquerda. O lado esquerdo !
-Aqui ?
-Isso ! Agora coça.
Luís Fernando Veríssimo.
Atividade
No texto acima, Veríssimo opera com dois contextos situacionais diferentes. Cada um desses contextos leva a uma determinada produção de sentido. Responda:
a) Durante quase toda a leitura somos orientados para a construção de uma determinado cenário no qual dois personagens vivem uma situação. Qual é ela? Ilustre sua resposta com "pistas" fornecidas pelo texto.
b) No final do texto, outro cenário emerge nos direcionando a outra interpretação. Em que momento do texto isso ocorre? Qual era a real situação vivenciada pelos personagens?
c) Que efeito essa leitura produz no leitor?
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